Que a quarentena e o COVID-19 transformaram a rotina do mundo inteiro, nós já sabemos.
Do dia para a noite, escolas, lojas, bares e restaurantes precisaram ser fechados; diversas empresas aderiram ao home office e, infelizmente, muitas pessoas perderam seus empregos. Por conta dessa mudança de cenário tão repentina, surge a questão:
Como a quarentena impactou o ambiente doméstico e a rotina das famílias brasileiras?
Neste artigo trazemos os insights principais da nossa pesquisa sobre a Vida em família na quarentena, que foi a base para a elaboração do nosso último webinar, apresentado por Flávia Cruz, a Head de Pesquisa da MindMiners. Vamos conferir?
Tarefas domésticas
Mais pessoas dividindo o mesmo espaço, mais esforço para manter a organização e limpeza da casa. Com todos passando mais tempo em casa, será que a divisão de tarefas e obrigações que fazem parte da rotina familiar está em equilíbrio?
A vida centrada no lar trouxe mudanças significativas para 47% da amostra, que relata que passaram a dividir mais tarefas da casa com as pessoas com quem moram. Isso se deve ao fato de que muitos lares (73%), para garantir o bem estar e saúde geral, precisaram abrir mão de profissionais que atuavam com as tarefas da casa.
A diferença na atuação das tarefas do dia-a-dia da casa por gênero já era significativa antes da pandemia. Mas na realidade atual e sem o apoio desses profissionais, o percentual de responsabilidades domésticas cresceu em maior escala para as mulheres do que para os homens, o que fez com que essa disparidade por gênero aumentasse ainda mais.
E essa questão não é diferente quando o assunto é a limpeza da casa.
Além de realizarem a maior parte do serviço doméstico, 40% das mulheres ainda precisam pedir para que as outras pessoas da casa cumpram com suas responsabilidades em relação a casa. Enquanto isso, 80% dos homens nem precisam pedir para que suas companheiras cumpram sua parte.
Esse fator além de gerar desgaste emocional nas mulheres, também não exclui a preocupação de realização da tarefa, e assim, surge o estresse organizacional. Além disso, esse desgaste emocional também impacta na autoestima feminina. No nosso webinar sobre a rotina de beleza das brasileiras na quarentena, descobrimos que 44% das respondentes afirmam que estão com baixa autoestima nesse momento, por conta das incertezas que o cenário de pandemia trouxe. As mulheres também são as que mais sentem falta de uma rede de apoio, e 33% concordam que o apoio dos familiares faz o isolamento ser uma experiência mais leve.
Até mesmo quando falamos de tentativas para diminuir o volume das tarefas domésticas, como pedir delivery ao invés de cozinhar, a situação se mantém a mesma. 62% das mulheres concordam que o trabalho de arrumar a bagunça depois de pedir comida via delivery é responsabilidade delas. Esse percentual é de 25% para o público masculino.
Alimentação na quarentena
Falando em comida, o hábito de cozinhar sofreu algumas mudanças. Com o aumento no número de refeições associado aos cuidados com as crianças, alguns pontos dessa tarefa doméstica precisaram ser modificados em busca de praticidade, principalmente para as mães.
Além de ter sido considerada uma nova forma de passar o tempo, muitas pessoas passaram a precisar cozinhar mais vezes durante a semana, o que fez com que mudassem alguns hábitos de consumo, tanto para os mais saudáveis, quanto para os menos saudáveis.
Para os respondentes que possuem crianças em casa, também foi necessário fazer algumas mudanças no cardápio por conta dos pequenos, logo, 31% das pessoas passaram a comprar mais produtos de categoria infantil, como biscoitos, salgadinhos, iogurtes, lanchinhos e sucos de caixinha.
Porém, quando falamos das principais refeições do dia, 50% dos respondentes disseram que houve alteração na alimentação dos filhos, e a principal mudança no cardápio foi passar a comer o que o restante da família come.
Trabalho X Família: As maiores preocupações
“Aprendi que a flexibilização de trabalho e escola é bom para nosso desempenho. Escolas e empregos híbridos (parte fisico e parte home) são melhores que 100% de uma só opção.” - Mulher, 34 anos, Norte - Classe B2
O home office foi uma das principais mudanças da vida em quarentena, e por conta dele, muitas famílias precisaram adaptar o ambiente da casa para poder trabalhar e estudar.
Além das adaptações do espaço físico da casa, também foi preciso encaixar a rotina de trabalho com a rotina de cuidados com os filhos. 60% da amostra concorda que essa é uma das partes mais complicadas do home office.
Para os que retomaram ao ambiente físico para trabalhar, a preocupação com relação aos filhos aparece, já que as escolas ainda não estão funcionando. E mais uma vez temos uma diferença de gênero com relação a responsabilidades familiares, pois essa preocupação atinge cerca de 12% das mulheres, que alegam não ter com quem deixar os filhos durante o período de trabalho. No caso dos homens, o percentual é de 0%.
Aliás, as preocupações das mulheres com relação aos filhos não se resume somente a esse fator. 51% das mulheres afirma que mesmo com o cônjuge em casa, 100% da responsabilidade de cuidar e educar os filhos é atribuída a elas. Além disso, 78% delas também é responsável por auxiliar os filhos nas aulas online e lições de casa.
Mesmo com os dados mostrando pressão e desgaste emocional de forma mais ampla no público feminino, quando analisamos o público geral é possível notar que questões envolvendo trabalho, família e principalmente a saúde em meio a pandemia rodeiam a maior parte do público.
A maior preocupação no período de quarentena é a contração do COVID-19 por parte de algum familiar, presente em 96% da amostra.
E como será depois da pandemia?
Com certeza o período de pandemia gerou novos hábitos nas famílias brasileiras. O cenário pós pandemia, por enquanto incerto, poderá fazer com que diversos setores se adaptem a necessidades completamente novas de seus consumidores, principalmente quando falamos sobre alimentação, beleza, cuidados domésticos e até de modelos de trabalho.
Além disso, antes da quarentena já sabíamos que existia um cenário desigual quando o assunto era a divisão de responsabilidades do lar. Agora, podemos notar que essa diferença está ainda maior, já que as responsabilidades das mulheres aumentaram ao nível de gerar ainda mais desgaste físico, emocional e mental.
No futuro, iremos acompanhar e questionar a forma como esse cenário mudará nossos hábitos como sociedade e como indivíduos.
Acompanhe os nossos conteúdos para saber como será o comportamento das famílias brasileiras depois da pandemia!