Se você perguntar a várias pessoas qual é o papel da moda para elas, ouvirá respostas diversificadas: representar sua personalidade, identidade, estilo de vida, o modo como enxerga o mundo, entre outras.
Todas essas, embora traduzam opiniões individuais, são verdades, e se expressar por meio da moda precisa ser um direito de todos. Aliás, não só se expressar, mas se sentir confortável e bem com o que se veste.
Porém, nem sempre a moda é verdadeiramente inclusiva. Já parou para pensar sobre isso? Nem sempre as pessoas conseguem utilizar a moda do jeito que gostariam, seja para representar sua identidade ou personalidade, seja para se vestir com mais conforto.
Além da imposição pela “beleza padrão”, modelo definido pela sociedade no qual grande parte da população acaba sendo excluída, existem os desafios das pessoas com deficiência física e que, por isso, precisam ainda de mais atenção das marcas do mercado da moda. Será que elas estão preparadas?
O que se entende por inclusão na moda, afinal? Será que estamos falando apenas de tipos de corpos? Com certeza não. Queremos falar de necessidades reais, Vem refletir sobre isso com a gente!
O que é moda inclusiva?
As pessoas pensam que moda inclusiva só diz respeito à inclusão de pessoas com deficiência. Por esse motivo, o conceito geral é que moda inclusiva é um movimento que propõe a criação de roupas, calçados e acessórios voltados às necessidades dos corpos com deficiência, focados no conforto e na ergonomia de PCDs.
A proposta da moda inclusiva é facilitar o acesso às peças que tornem o dia a dia das pessoas com deficiência mais simples, prazeroso e autônomo na hora de se vestir. Porém, a verdadeira inclusão na moda deve ir muito além: é a inclusão de todos, sendo para corpos com deficiência ou não.
Expandindo o conceito de inclusão
Abrangem-se aqui corpos grandes, pequenos, baixos, altos, magros, gordos, e tantos outros, além das diversas identidades de gênero e faixas etárias. É a verdadeira inclusão de qualquer indivíduo.
Você já ouviu alguém dizer que não compra em determinada loja, pois lá não tem roupa para ela ou mesmo já passou por isso? Isso acontece com homens e mulheres todos os dias, independentemente do tamanho da numeração. Isso precisa mudar no mercado consumidor.
No nosso estudo original sobre Moda e Inclusão, por exemplo, tivemos respondentes com deficiência que informaram que o ato de comprar roupas para elas é algo extremamente difícil: 63% já deixaram de usar roupas que acharam bonitas, mas que sabiam que não gostariam delas em seus corpos.
Além disso, 49% dessas pessoas disseram que quando uma roupa não lhe veste bem é porque a modelagem não foi pensada para o seu tipo de corpo. Outros 46% informaram que é pela dificuldade de vestir a peça.
Poucas são as marcas realmente inclusivas e que estão atentas às reais necessidades do mercado. Mas tenha em mente que a indústria exerce um papel muito importante na vida das pessoas com deficiência.
Esse é um assunto tão sério que selecionamos um vídeo da estilista Michele Simões, criadora da plataforma Meu Corpo é Real. Ela percebeu na vida de cadeirante, depois de um acidente que sofreu, novas formas de entender o mundo e a forma como as pessoas consomem moda.
A plataforma é focada em promover a inclusão reversa, processo em que um indivíduo sem deficiência participa de programas específicos para pessoas com deficiência. Vale a pena assistir à palestra onde ela fala dos desafios dos PCDs no mercado da moda.
Mas é inclusiva mesmo?
Como realizar a inclusão por meio moda, de fato? Exemplos de peças e ações produzidas com foco na inclusão de PCDs são:
- confeccionar a peça com botões magnéticos fáceis de serem fechados por pessoas com disfunções motoras;
- disponibilizar dispositivos de áudio que fazem descritivos das peças para pessoas cegas;
- oferecer comprimentos diferentes para que camisas, jaquetas e blazers não fiquem compridos demais quando utilizados por uma pessoa cadeirante;
- produzir jaquetas e blazers com costura reforçada para não serem descosturados quando a pessoa usar muletas.
Porém, produzir e disponibilizar peças focadas em promover a inclusão vai além de pensar em tipos de corpos, é preciso também considerar a inclusão para diversos bolsos. É comum ver no mercado empresas engajadas nessas causas, mas cujas produções acabam se tornando menos acessíveis às classes mais baixas.
Esse é um fator importante a ser considerado pelas marcas, já que grande parte das pessoas compra roupas por necessidade, em primeiro lugar. No mesmo estudo sobre moda da MindMiners identificamos que:
64% dos respondentes informaram que o preço é o aspecto mais relevante na hora de se decidir por uma peça.
Nesse sentido, é preciso avaliar: existe acessibilidade de verdade? Ou as pessoas precisam optar pelas peças que cabem no bolso, mas não atendem suas reais necessidades e desejos.
Leia mais: 75% dos respondentes de uma pesquisa sobre gordofobia acha que seria inspirador ver pessoas gordas participando mais de novelas e campanhas publicitárias.
Exemplos de marcas que já adotaram a inclusão na moda
Algumas marcas já implementaram ações que são sucesso no mundo da moda inclusiva. Acompanhe alguns cases.
Tommy Hilfiger
A Tommy Hilfiger é considerada uma das pioneiras quando o assunto é moda inclusiva. Em 2016, a marca lançou uma coleção de roupas exclusivas para crianças com deficiência e dificuldades de mobilidade.
A campanha deu tão certo que a empresa lançou uma linha exclusiva com foco em inclusão, a linha Adaptive, que conta com peças para homens, mulheres e crianças.
Equal
A Equal Moda Inclusiva é uma marca brasileira, criada por uma carioca, a estilista Silvana Louro. Porém, sua linha foi criada com o foco em ajudar para paratletas cariocas, diante da dificuldade que tinham de encontrarem uniformes adaptados.
Mas não ficou só nisso. A empresa enxergou novas oportunidades de negócio e expandiu a produção para vestuários mais básicos como vestidos, saias e blusas.
Rebirth Garments
A Rebirth Garments tem uma proposta bem interessante, pois além de focar na inclusão de PCDs, promove também a inclusão da moda agênero. Por isso, suas roupas são bastante coloridas, flexíveis e totalmente adaptáveis.
Veja um trecho do manifesto da marca que reforça exatamente o que falamos no início deste artigo sobre o papel da moda de representar e identificar cada pessoa:
“Sentir-se confiante em sua aparência externa pode revolucionar sua realidade emocional e política, assim, Rebirth Garments e Radical Visibility Zine trabalham em conjunto como uma forma de nutrir uma comunidade de pessoas que muitas vezes foram excluídas da moda convencional e fornecer uma plataforma para as pessoas se expressarem com confiança e orgulho nas interseções de suas identidades.”
O que as pessoas esperam das marcas de moda?
De maneira geral, as pessoas gostam de se sentir representadas pelas marcas que consomem — o manifesto acima, de uma das marcas que já estão inseridas na moda inclusiva, é exemplo disso.
A moda é um veículo de comunicação, e essa comunicação acontece entre pessoas e empresas. Então, por que não tornar sua marca mais humana e conectada com o propósito, os valores, a sensibilidade real, representação do seu público sem abrir mão do conforto e da beleza?
E como saber o que o seu público espera da sua marca?
As pesquisas de mercado focadas em entender o comportamento do seu consumidor são essenciais nesse momento. Elas ajudam não só a identificar as reais necessidades do seu público, como a ter mais proximidade com ele, entender como o cliente quer dialogar com a marca, e adotar uma relação mais educativa e inclusiva com a sociedade.
Além disso, esse tipo de pesquisa ajuda a mapear tendências pelos apontamentos dos entrevistados e sair na frente da concorrência ao identificar lacunas no mercado.
Gostou da ideia? Temos uma plataforma onde você pode entender melhor, de forma gratuita, como funciona a pesquisa na prática.
E se você gostou desses insights do universo da moda inclusiva, temos um estudo recheado de dados atuais sobre o que os consumidores brasileiros pensam quanto a este assunto. Aproveite para entender como as pessoas se relacionam com a moda!
Conferir estudo sobre Moda e Inclusão!(crédito de capa: Faesa Digital)