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Redes Sociais e Saúde Mental

A facilidade de acessar muito em poucos cliques torna a possibilidade de conexão contínua tentadora. Entenda o impacto das redes sociais no cotidiano e na saúde mental dos usuários.


Quantas vezes você já parou o que estava fazendo hoje para checar o celular? E as redes sociais? Está lendo esse texto porque viu em uma rede social? Está no celular nesse momento? Desde que a internet ganhou mobilidade por meio dos smartphones parece cada vez mais difícil se desconectar, não é mesmo?

A facilidade de acessar muito em poucos cliques torna a possibilidade de conexão contínua tentadora. Muito tem se falado sobre como a utilização das redes sociais está mudando o comportamento das pessoas. E, geralmente, essas constatações possuem um viés negativo. Ainda assim, quais serão as reais consequências desse uso? Existem maneiras saudáveis de utilizá-las?

A MindMiners, em parceria com o Núcleo de Inovação em Mídia Digital da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), conversou com 1.000 usuários da rede social de opinião Meseems, de todas as regiões do país, classes sociais, faixas etárias e gêneros para entender qual o impacto da utilização das redes sociais no cotidiano e na saúde mental dos brasileiros.

Frequência de uso das redes sociais e os comportamentos viciantes

Algumas redes sociais, por conta de suas funcionalidades e finalidades, atraem uma utilização mais frequente. É o caso do WhatsApp, que por princípio é uma rede de mensagens rápidas e comunicação constante. Atualmente, essa rede é utilizada diariamente por 96% dos respondentes do estudo.

Outras redes de uso diário:

69% utilizam o Facebook diariamente;
68% utilizam o Instagram diariamente.

Utilizar as redes sociais com muita frequência não é por si só um problema, mas quando olhamos de maneira mais precisa para as formas e momentos em que as pessoas utilizam, podemos notar alguns comportamentos prejudiciais tanto para o convívio social, quanto para questões de saúde como sono e alimentação.

Algumas pesquisas já indicam que a luz azul utilizada nos dispositivos de celulares, tablets e computadores é prejudicial a qualidade do sono dos usuários que passam muito tempo expostos a ela. Contudo, 87% dos respondentes afirmou acessar as redes sociais antes de dormir. Entre jovens de 18 a 24 anos o percentual é de 94%. Esses dados indicam uma frequência alta de utilização dos dispositivos em momentos em que a atenção do usuário deveria estar voltada para o relaxamento do corpo e da mente.

Além de serem um momento crucial para a nossa saúde, as refeições também são essenciais para a socialização. No entanto, nesse contexto de hiper conectividade, as redes sociais passaram a estar presentes também nessas situações. Entre os respondentes do estudo, 47% afirmou utilizá-las durante as refeições, e esse número cresce para 60% entre os jovens de 18 a 24 anos.

Com a atenção voltada para o celular, passamos a não prestar atenção na forma como nos alimentamos e nas pessoas que estão ao nosso redor, perdendo a oportunidade de interagir e controlar melhor o que ingerimos e como ingerimos.

Ilustração: Erika Lourenço

Influência nas relações interpessoais

Você já deve ter passado por uma situação em que um amigo/familiar parou ou se desligou durante uma conversa presencial por alguns segundos por estar olhando uma notificação de rede social. No momento em que isso ocorre nos desconectamos da conversa, e à medida que esse se torna um acontecimento frequente vamos perdendo a oportunidades de estabelecer contato com o outro.

94% dos entrevistados afirmou que os amigos costumam verificar notificações de redes sociais enquanto estão conversando.

A utilização desses recursos se tornou tão intensa que passou a influenciar nas relações fora das redes. Estamos tão conectados aos dispositivos digitais e acostumados a ter nossas conversas mediadas por redes que aos poucos podemos perder a capacidade de nos conectarmos pessoalmente.

Apesar da maior parte (52%) dos respondentes se sentirem mais confortáveis conversando pessoalmente, 82% afirmou que existem alguns assuntos que são mais fáceis de falar nas redes sociais.

43% afirmou que é mais fácil falar sobre relacionamentos;
40% afirmou que é mais fácil falar sobre sexualidade.

O intermédio das redes faz com que a gente tenha de alguma forma um mediador de conversas, onde não precisamos enfrentar o desconforto de pontuar alguns descontentamentos com amigos e familiares. Sendo assim, podemos utilizar tanto para nos aproximarmos e estabelecer conexões de maneira mais simples, quando entrar em embates complexos que podem transcender as redes.

37% dos respondentes do estudo concordam em algum grau com a afirmação “Já tive discussão com amigos ou família por causa de algum post em redes sociais que não gostei.”

Estamos tão empenhados em utilizar as redes para manter relações sociais, que esquecemos de equilibrar esse uso com outras formas de se relacionar com os demais.  Ao mesmo tempo em que as pessoas podem se conectar umas às outras de maneira mais ágil, mesmo com distancias físicas, o excesso de intermédio das redes sociais nesse processo está interferindo em outras formas de socialização.

62,4% dos respondentes já deixou de usar uma rede social e 17,1% delas, o fizeram porque interferia em relacionamentos pessoais.
Ilustração: Erika Lourenço

Exposição pessoal e a necessidade de autoafirmação

Quando postamos algo sobre nossas vidas na rede social, seja um momento com amigos e familiares, uma selfie, ou um relato sobre acontecimentos do dia a dia é porque queremos ser vistos. Não há nada de errado em querer ser visto, essa é uma característica básica dos seres humanos, portanto todos nós queremos isso em algum grau. Por outro lado, as redes sociais estão ajudando a fomentar um excesso de necessidade em ser notado.

Apesar de apenas 41% dos respondentes concordarem em algum grau com que a reação das pessoas aos posts é importante, 63% concordou com a seguinte afirmação: “Depois que posto algo, checo ao menos uma vez o número de curtidas/visualizações e quem curtiu/visualizou a minha publicação”. Esse percentual aumenta para 74% entre os jovens de 18 a 24 anos.

Na ausência de outras instituições exercendo esse papel, as redes sociais se tornaram um local de autoafirmação, onde eu só me reconheço enquanto sujeito diante da aprovação do outro. Esperamos receber aprovações em formas de likes, comentários e compartilhamentos.

Ilustração: Erika Lourenço

Impacto direto das redes na saúde mental

Por conta do grande volume de conteúdo gerado nesses canais é comum que os usuários se cobrem para sempre estarem conectados e informados sobre tudo. Entre os respondentes por exemplo, 56% concordou em algum grau com a afirmação: “Sinto que se eu abandonar as redes sociais, ficarei desatualizado sobre alguns acontecimentos do meu círculo de amigos.”

Essas demandas de estar sempre atento ao que acontece nas redes pode gerar um desgaste emocional, uma vez que o usuário se força a manter sempre um nível de atualização que o permita dialogar com os demais da maneira como se esperado socialmente.

Em especial, é preciso ressaltar a importância dos produtores de conteúdo nesse contexto, pois assim como as plataformas, possuem a missão de manter os usuários ativos e interagindo nas redes. Entre os 55% dos respondentes que acompanham algum influenciador digital, apenas 32% afirmou acreditar que as postagens desses produtores correspondem em algum grau ao que realmente é a vida deles.

O interessante é entender que mesmo não enxergando total autenticidade, o público ainda continua seguindo e consumindo o que é produzido. E diante dessa percepção de que nem tudo é real, os usuários podem experimentar alguns sentimentos negativos, como a raiva por exemplo, que já foi um sentimento vivido por 17% e a tristeza por 22% dos respondentes do estudo.

O que gerou sentimento de raiva nos usuários:

“Coisas difíceis como emagrecer são tratadas como simples e ser só questão de esforço, assim como ganhar dinheiro, ser famoso etc.” – Mulher, 21 anos, Classe A, Nova Odessa - SP
“Ver a vida das pessoas em lugares melhores, condições financeiras melhores, serem mais bonitos que eu, dentre outros.” – Homem, 37 anos, Classe B2, Vitória da Conquista – BA
“Ver o influenciador agir com um desprezo velado sobre aqueles que pensam diferente dele.” – Homem, 25 anos, Classe B2, Dourados - MS

As redes sociais e os transtornos mentais

Falando especificamente de transtornos mentais, 31% dos respondentes já foi diagnosticado com ansiedade e 18% com depressão. A maior parte afirmou que as redes sociais não tiveram impacto em seu transtorno, contudo 21% afirmou ter um impacto positivo.

Um das formas utilizadas pelos usuários para se beneficiar das redes sociais é a utilização de grupos para debater a saúde mental de maneira mais ampla, ou até mesmo transtornos específicos. Entre os respondentes que já foram diagnosticados com algum transtorno mental, 13% participam de grupos que debatem o tema nas redes sociais. Apesar de ainda não ser um recurso utilizado pela maioria, os grupos podem ser espaços de compartilhamento de experiências e novas conexões pessoais, mas que não substituem acompanhamento com profissionais.

Ilustração: Erika Lourenço

Como equilibrar o uso das redes

Parte dos usuários de redes sociais já entende que é necessário repensar essa utilização. Alguns já adotaram medidas mais “extremas” para se desconectar nem que seja momentaneamente. Deixar o celular em casa por exemplo, já foi uma atitude adotada por 19% dos respondentes. Deixar de usar ou apagar o perfil já passou pela cabeça de 49% deles e o tempo gasto foi o principal motivo para esse desejo.

Os principais motivos pelos quais os respondentes querem deixar alguma das redes sociais, entre as que utilizam atualmente, estão ligados ao tempo gasto e o relacionamento com outras pessoas dentro e fora desses ambientes.

“Tomam tempo que deveria ser usado em outras atividades” - Mulher, 47 anos, classe B2, Belo Horizonte - MG
“Sinto que além de tomar um tempo precioso da minha vida, sou meio que obrigada a criar uma versão minha que agrade aos outros.” - Mulher, 24 anos, classe C, Presidente Epitácio - SP
“Porque está tomando muito meu tempo, me atrapalhando psicologicamente.” - Homem, 19 anos, classe B2, Itaíba - PE
“Por não conseguir me controlar no tempo de acesso” - Homem, 37 anos, classe B2, Porto Alegre – RS

Existem caminhos para uma utilização saudável?

Se de alguma forma as redes sociais auxiliaram pessoas  com seus transtornos, esse é um indicativo que existem formas de promover uma utilização mais saudável.

A facilidade de encontrar pessoas que compartilham dos mesmos sentimentos e o grande número de informações geradas por essas redes, quando bem utilizadas, são capazes de contribuir mais do que influenciar negativamente.

Diante de todos os benefícios proporcionados pelo desenvolvimento de canais digitais, não é possível atribuir apenas pontos negativos as redes sociais. De qualquer forma, precisamos estar atentos a maneira como esses recursos estão influenciando nosso cotidiano e nossa subjetividade.

São as redes tão importantes que merecem a nossa primeira e última atenção do dia? As conexões mediadas por elas são mais relevantes que as conquistadas e administradas de outras formas?

Temos, literalmente em nossas mãos, poderosas ferramentas de conexão, mas que quando utilizadas sem restrições podem nos levar a desconexões.

Ainda não existem fórmulas que funcionem para todos os usuários, empresas e influenciadores utilizarem as redes sociais de maneira mais saudável. O que cada um, de acordo com o seu papel nesse contexto, pode fazer é identificar os sentimentos gerados por cada hábito e a forma como a utilização atual está afetando no cotidiano e nas relações interpessoais.

Gostou? Redes sociais e saúde mental foi o tema da 3a edição do Next, evento oficial da MindMiners. Você pode acompanhar esse e outros conteúdos em nossa newsletter:

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