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Maternidade sem filtro - Parte I

O estudo busca entender a fundo a visão das mulheres sobre a maternidade, conhecer o dia-a-dia das mães entre outros assuntos.


O que é ser mãe? Essa é uma pergunta que muitas mulheres inevitavelmente acabam fazendo ao longo da vida. No entanto, por mais que sempre tenha havido na nossa sociedade uma tentativa de simplificação ou idealização da maternidade, não há uma única resposta para um tema tão complexo como esse.

Como bem sabemos, não existem cursos ou bibliografias que ensinem alguém a ser mãe, e cada mulher tem suas angústias, desafios e conquistas pessoais quando tratamos do assunto.

Além disso, por décadas, a maternidade foi encarada como função compulsória das mulheres. Essa é uma das questões que o movimento feminista, que preza pela igualdade dos direitos entre gêneros e a solidariedade entre mulheres, vem tentando mudar.

O feminismo abriu espaço para as mulheres discutirem o tema da maternidade sob uma ótica mais realista e sem tabus. Afinal, por trás de cada mãe que ama e cuida de seu filho, há uma mulher que precisa enfrentar todas as dificuldades, perrengues e privações que uma maternidade pode trazer. Questões como essas devem ser colocadas em discussão, para que as mulheres possam compartilhar suas experiências reais e tudo o que sentem de uma forma honesta, sem filtros - e sem medo de serem julgadas.

Com o objetivo de entender a fundo a visão das mulheres sobre a maternidade, conhecer o dia-a-dia das mães e desmistificar os diversos tabus que permeiam o tema, a MindMiners realizou um estudo com 900 mulheres espalhadas por todo o Brasil, de todas as classes sociais e faixas etárias.

Agora, vamos compartilhar a primeira parte do estudo. Nela, abordamos temas como a visão de quem não é mãe, a divisão da criação dos filhos, os desafios das mães solo, a vida social pós-maternidade e o dia-a-dia de uma mãe.


A maternidade, para quem não é mãe

Além de explorar diversos aspectos da maternidade na visão das mães, o estudo também se propôs a investigar como as mulheres que não são mães enxergam a maternidade.

NoMo: as mulheres que não querem ter filhos

E se engana quem pensa que esse é um grupo pequeno.
Com a desconstrução da maternidade compulsória, surge uma nova geração de mulheres: as NoMos (abreviação de Not Mothers – “Não Mães”). Essa geração, que ficou popular com ajuda da associação britânica Gateway Women,  reivindica “o respeito de uma sociedade fundamentada na absurda crença de que uma mulher tem que dar a luz pelo menos uma vez na vida”. Muitas famosas, inclusive, já declararam fazer parte desse grupo, como Jennifer Aniston, Oprah Winfrey, Ellen DeGeneres, Cameron Diaz, Renée Zellweger, entre outras, que expressaram publicamente seus desejos de não serem mães.

Mas por que essas mulheres não são mães?

De acordo com o estudo realizado pela MindMiners, dinheiro (ou falta de) parece ser o principal motivo para justificar a ausência de filhos, tanto para mulheres que pretendem ter filhos no futuro, quanto para aquelas que não desejam ser mães.

Das mulheres com mais de 40 anos de idade que não querem ser mães, 54% afirmou que o principal motivo para essa decisão é que “criar filho(s) é muito caro”. Esse é o segundo motivo apontado por mulheres entre 25 a 40 anos (32%): para elas, o principal motivo pela escolha de não ser mãe é por acreditarem que não têm vocação para isso (45%).

Já entre as mulheres que desejam ter filhos no futuro, os principais motivos para o adiamento da maternidade são a falta de dinheiro para criar um filho no momento (51%) e a sensação de serem muito novas para serem mães (46%).


E tem idade certa para ser mãe?

A resposta é: não, não tem. Mas parece que a sociedade não entendeu isso ainda. Isso porque 35% das mulheres não-mães afirmaram já terem sofrido algum tipo de preconceito por não terem filhos, e, segundo elas, sermões sobre a tal “idade ideal” ou sobre o “papel da mulher” são, infelizmente, quase rotineiros.

Casamento + filhos = felicidade
Será que essa é mesmo a fórmula da felicidade? Esse estudo de um professor Ciências Comportamentais da Escola de Economia de Londres mostrou que mulheres solteiras sem filhos são mais felizes que o restante das pessoas.

A maternidade, na visão das mães

Manhêêêê!

Dar banho, preparar o lanche, levar para a escola, fazer o almoço, ajudar com a lição de casa, levar no futebol ou na aula de balé, fazer brincadeiras, preparar o jantar, colocar para dormir… Cuidar dos filhos, definitivamente, não é tarefa simples. Imagine, então, fazer tudo isso sozinha? Segundo dados do IBGE, é isso o que acontece com quase 40% dos lares brasileiros. Hoje, já são 57,3 milhões de famílias mantidas por mulheres, o que significa 38,7% das casas.

Segundo a pesquisa Retrato das Desigualdades de Gênero e Raça, divulgada em março de 2017 pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), o número de lares brasileiros chefiados por mulheres passou de 23% para 40% entre 1995 e 2015.
Nessas famílias, em apenas 34% há presença do cônjuge.

Além disso, dados divulgados em 2017 pelo IBGE mostram que, entre 2005 e 2015, o número de famílias compostas por mães solo subiu de 10,5 milhões para 11,6 milhões.


Como é a divisão da criação dos filhos

No estudo da MindMiners, 72% das mães participantes afirmaram que dividem a criação dos filhos com o pai da criança, enquanto apenas 10% afirmaram serem mães solo.

Esse número aumenta significativamente quando consideramos apenas as respostas das mães solteiras: quase ⅓ delas afirmou que não tem ajuda de ninguém, e outro ⅓ relatou que a avó da criança é quem mais ajuda a mãe nesse desafio, antes mesmo do pai da criança.

Mas afinal, mãe solteira e mãe solo não são sinônimos?
A expressão “mãe solo” tem sido cada vez mais utilizada no lugar do termo “mães solteiras”, e não é por acaso: essa é a forma para denominar mães que são as únicas ou principais responsáveis pela criança. Até porque, convenhamos: maternidade não tem nada a ver com estado civil.

No vídeo abaixo, a youtuber Hel Mother explica em detalhes o que é uma mãe solo, e porque a expressão "mães solteiras" deveria sair do seu vocabulário.

Se você ainda não conhece o canal da Hel Mother, volte três casas
Um espaço para falar de maternidade de forma descomplicada e para salvar outras mães que precisam de suporte. É assim que Helen Ramos, 30 anos, mais conhecida como "Hel Mother" descreve seu propósito no YouTube. Por lá, Helen compartilha a sua experiência como mãe solo de Caetano, mostrando o lado real da maternidade e as situações corriqueiras que quase ninguém fala.

O terceiro episódio do podcast Em Casa A Gente Conversa também abordou as principais dificuldades, dúvidas e perrengues que uma mãe solo passa sozinha:


Ilustração por Érika Lourenço

Cadê todo mundo que tava aqui?

A solidão é uma das grandes queixas de mulheres que viram mães - e isso não se limita às mães solo. A nova rotina com o bebê parece não combinar mais com a agenda dos amigos e com os encontros de sempre. Nosso estudo mostrou que, apesar de 51% afirmar não terem sentido uma diferença significativa sobre isso, 32% relata que amigos(as) sem filhos se afastaram durante a gravidez ou após o nascimento do bebê.

Em outro vídeo no seu canal de YouTube, a Hel Mother traz sua experiência pessoal e fala sobre a relação entre amizade e maternidade.

Falta de empatia, falta de interesse pela vida da mãe -aquele excesso de “eus” na conversa- assim como desconforto com o choro do bebê ou pouco bom senso na hora da visita são alguns pontos destacados pela blogueira.

No vídeo, Helen também aponta que os amigos têm um papel importante para reverter esse problema. “As mães precisam voltar à vida social, e são os amigos que ajudam elas nessa missão”, diz no vídeo.

Mas e quando os amigos não conseguem ajudar as mães nesse desafio? Para onde correr? Bom , é nessa hora que a tecnologia entra para ajudar: conheça o Peanut, o "tinder" materno.

Deu Match!
Assim como um aplicativo de namoro, o Peanut aproxima mães com interesses em comum. Ao se cadastrar, você escolhe a quais grupos quer se unir, desde as mães que querem se divertir (“Hora do Vinho”) àquelas que não curtem malhar (“inimiga do Fitness”). O aplicativo também oferece a possibilidade de conectar mães de crianças com necessidades especiais e mães solos em busca de outras mulheres que compartilham da mesma realidade.

Uns mais longe, outros mais perto

Apesar de afastar alguns amigos, a maternidade também pode estreitar laços - principalmente os familiares. A pesquisa da MindMiners revelou que, das pessoas que mais se aproximaram das mães nessa fase da vida, a avó (mãe da mãe) aparece em primeiro lugar (64%), seguida da irmã (39%) e do avô, pai da mãe (34%). E os amigos? Bom, para 36% das mães, amigos(as) com filhos também se aproximaram mais.


Sem tempo, manas

E parece que não foram só as relações entre familiares e amigos que mudaram na vida das mães com a chegada da maternidade: seus hábitos também mudaram.

No estudo, 46% das mães relatou ter diminuído a frequência com que saía para se divertir, e 43% afirmou também ter diminuído a frequência com que encontrava amigos. Esses números são ainda maiores após o nascimento do bebê: 53% passou a sair menos para se divertir e 50% passou a encontrar amigos cada vez menos.

Filme Tully: um retrato honesto da maternidade real

O filme Tully mostra a rotina doméstica de Marlo (Charlize Theron), mãe de dois, grávida do terceiro filho
Do mesmo diretor e roteirista de Juno, o filme Tully, estreado no Brasil em maio de 2019, retrata a maternidade como ela é. A trama mostra a rotina de Marlo, interpretada por Charlize Theron, uma mulher que espera seu terceiro filho e está sufocada pela rotina doméstica e cuidados com os filhos. O filme fez sucesso nos cinemas e trouxe mensagens importantes sobre a maternidade e a solidão materna que as mulheres enfrentam durante essa fase.

Quantas horas cabem em um dia, mesmo?

Essa mudança na rotina com a chegada da maternidade, entretanto, não é uma surpresa se pararmos para imaginar como é um dia comum na vida de uma mãe.
No estudo, ao perguntarmos sobre como as mães dividem as 24 horas do seu dia, ficou claro que a maior parte de seus dias é dedicada para outra pessoa: 55% das participantes afirmou passar mais de 8 horas por dia cuidando dos filhos. Outras 6 a 8 horas são dedicadas para o trabalho (21%) e para dormir (53%). Os cuidados com a casa também aparecem tomando boa parte do dia das mães: 56% passa de uma a 4 horas diárias com afazeres da casa, deixando os momentos de lazer para até, no máximo, 2 horas por dia (58%).

E será que sobra tempo para se cuidar ou para praticar atividades físicas, por exemplo? Enquanto 39% consegue dedicar até uma hora por dia para cuidar de si mesma, 25% das participantes disse não ter tempo para isso.

O que fariam se tivessem mais tempo livre?
De acordo com dados coletados na pesquisa Mães de Hoje, realizada pela CRESCER, 37% das mulheres disse que assistiria a mais filmes ou TV se tivesse mais tempo livre, enquanto 14% passaria mais tempo sozinha. A pesquisa também revelou que apenas 3% preferiria praticar exercícios ou realizar tratamentos estéticos e 8% sairia mais com o companheiro.

Para conhecer ainda mais o dia-a-dia das mães, no estudo realizado pela MindMiners, pedimos para as respondentes enviarem uma foto que representasse bem aquele dia corrido:

As imagens falam por si só: cansaço, bagunça, falta de tempo, muita coisa para fazer - e a sensação de ser Mulher Maravilha para dar conta de tudo isso com um sorriso no rosto.

Gostou do estudo? Esse é só o começo: para nos aprofundarmos nos diversos temas que permeiam a maternidade, dividimos nosso estudo em quatro partes - essa é a primeira delas, na qual focamos em conhecer a visão das mulheres brasileiras sobre maternidade (incluindo a opinião de mulheres não-mães), entender como é a divisão da criação dos filhos, investigar o impacto da maternidade na vida social das mães e descobrir quantas horas diárias são dedicadas aos cuidados com os filhos.

Quer saber mais?

Para ter acesso a todos os dados da pesquisa, com a possibilidade de filtrar as respostas a partir de targets específicos, preencha o formulário abaixo:

O que vem por aí: Maternidade sem filtro, a parte 2

Na segunda parte do estudo, aproveitando a chegada do Agosto Dourado, mês da conscientização do aleitamento materno, iremos falar sobre a experiência de parto e desvendar os desafios e preconceitos relacionados à amamentação. Também vamos abordar a depressão pós-parto, um dos maiores tabus da maternidade que, como a nossa pesquisa mostrou, ainda é um assunto muito sensível para a maioria das mães.

Fique de olho no blog da MindMiners para não perder a próxima parte do estudo sobre maternidade. :)

Amostra da pesquisa: